domingo, 26 de julho de 2009

Suícidio

Dos assuntos polêmicos que permeiam o mundo, o suicídio é um dos mais polêmicos possíveis. Hoje (principalmente sob os dogmas cristãos ocidentais) é tido como um mal e interpretado como covardia humana. Porém o mesmo em outros tempos e por outras sociedades não foi tratado de forma tão desprezível assim. A história nos mostra que o ato de tirar a própria vida, por diversas civilizações em diversos períodos foi um ato nobre e de coragem. Na Grécia e Roma antiga, só quem “podia” se matar eram os nobres e/ou políticos. Geralmente o suicídio era praticado através da perfuração, seja ela de faca ou espada. Porém, havia, entretanto, o suicídio por picada de animal peçonhento, a exemplo temos Cleópatra que se deixou ser picada por uma serpente. Além dessas duas formas, havia também a morte por envenenamento (essa ultima considerada menos nobre).
No oriente existiu uma espécie de código samurai denominado de Bushidô, proveniente das palavras ‘Bushi’, que significa "guerreiro", e ‘Do’ que significa "o caminho". Bushidô significa então: "o caminho do guerreiro". Sendo assim, só os grandes guerreiros Samurais poderiam cometer suicídio. O suicídio do Samurai só ocorria quando o mesmo não se sentia mais apto a defender as fronteiras de seus senhores. Portanto, o suicídio só era aplicado em ultima instancia.
No mundo musical o suicídio mais polemico é o do cantor e ex líder da extinta banda americana de Grunge, Nirvana. Kurt Donald Cobain (supostamente porque há controvérsias e no processo causa morte) teria cometido suicídio no dia 05/04/1994, com um tiro de espingarda na cabeça, porém, a quantidade de heroína encontrada em seu corpo era tão elevada que se tornaria impossível alguém ter forças para puxar o gatinho. Contradições e desconfianças a parte, o fato é que Kurt Cobain morre deixando uma carta escrita em vermelho, além de uma legião de fãs “órfãos” por todo o mundo.
No Brasil, o suicídio mais famoso se encontra no campo político. Na época o então presidente Getulio Dorneles Vargas, envolvido em várias polemicas, como ultimo recurso decide cometer suicídio no dia 14/08/1954, suicida-se com um tiro no coração, em seu quarto, no palácio do Catete, na cidade do Rio de Janeiro (então Capital Federal). Vargas é conhecido também pela frase que deixou em sua carta de despedida: “Saio da vida para entrar na História”. Outro “suicídio” brasileiro famoso foi em 24/10/1975. A morte do jornalista (na época ocupando o cargo de diretor jornalístico da TV cultura) Vladimir Herzog. Em pleno regime da ditadura, o mesmo foi preso sob a acusação de pertencer ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), na época classificado pelos militares de ilegal, fichado no Destacamento de Operações de Informações/Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) como subversivo, foi fortemente torturado até a morte. Os militares tentaram “maquiar” o fato e atribuir sua morte a um suposto “suicídio”, porém exames posteriores revelaram que o corpo do jornalista havia sofrido tortura e se encontrava com vários hematomas.
Como vimos, o suicídio muda o curso da História, seja ele questão de honra tal qual no período greco-romano e na época dos Samurais ou jogo político. Atualmente, segundo os paradigmas da crença cristã, o suicídio é visto como algo desprezível, imperdoável e considerado um dos pecados mais graves. Mas, se segundo a própria crença cristã, Deus nos deu o livre arbítrio para escolhermos o que queremos na vida, porque não podemos escolher se queremos continuar nesse mundo ou não. O suicídio é polemico por essência, afinal, quem melhor que ele para bater de frente e desafiar os padrões socioculturais modernos?

3 comentários:

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Gostei Marcilo, bellíssima problematização do suicídio.É importante pensarmos no suicídio de forma mais ampla, sem vinculação à ideais religiosos ou coisas do tipo, o sujeito em questão tambem deve ser visto e compreendido...
abraços
PS: pena que existem babacas que aparecem para avacalhar as ideias alheias, enfim...parabéns.

Renato Paiva disse...

Boa questão trabalhada, é importante pensarmos esses temas que nos acompanham desde as mais remotas civilizações, no entanto são banalizadas socialmente.